terça-feira, 31 de março de 2009

"Beber, cair e levantar", até que ponto a diversão é saudável?

Especialista em apoio aos jovens usuários de drogas lamenta a banalização do consumo de álcool na sociedade.

Por Marília Rocha


É só ligar o som, assistir televisão ou até mesmo conversar com amigos que a temática é sempre a mesma, diversão sob efeito de drogas. O álcool é o campeão no ranking das drogas usadas na adolescência, mas o que a turma do "beber, cair e levantar" não sabe são os reais efeitos do uso em excesso da bebida alcoólica.

O uso de drogas tem aumentado entre jovens de todas as faixas etárias. Dados do Centro Brasileiro de Informações sobre Drogas Psicotrópicas, CEBRID, mostram que 20% da população mundial já fez uso de maconha e cocaína, entre outras drogas ilegais, percentual que aumenta para 29% se for acrescido álcool e tabaco.

No Brasil, o índice aumenta para 46% entre adolescentes de 12 à 17 anos que já experimentaram álcool. O espantoso é a naturalidade com que o assunto é tratado não tendo repercussão negativa na família, até a primeira mudança de comportamento.

O Rio Grande do Norte dispõe de algumas casas de recuperação, como a Casa de Apoio Nova Aliança que desenvolve um trabalho de tratamento para jovens viciados. "Conheço muitos casos que começaram com o álcool, em pequeno uso, ou somente no final de semana", afirma o coordenador da Casa, Murilo Vieira.

Fundada em 19 de junho de 2004, a Nova Aliança está localizada em Pium e atualmente tem 55 dependentes químicos em tratamento com duração de nove meses até a desintoxicação total. "Atendemos dependentes de álcool e drogas de todo o Nordeste, de todas as faixas etárias", conclui Murilo.
Apesar do uso do álcool ser considerado maléfico para a classe médica, as bebidas estão expostas nas gôndolas dos supermercados, com acessos facilitados para os jovens. "A história de todo mundo é a mesma: comecei bebendo em festas de final de ano, carnaval e depois fui prolongando e agora estou aqui", declara o coordenador.

Além disso, as músicas incentivam ao uso do álcool e nos grupos, o motivo de encontros é geralmente o mesmo: tomar aquela cervejinha!

Na clínica de Pium, o tratamento para os dependentes é feito através de ensinamentos religiosos, palestras e atividades educacionais. "Os jovens também são acompanhados por grupos de psicólogos e alunos da área que fazem palestras de conscientização artística e cultural", declara.

"Mas prevenir é melhor do que remediar", destaca Murilo, fazendo um alerta as famílias e aos jovens com objetivo de evitar contato com qualquer tipo de droga. "Os vendedores de drogas estão ganhando espaços e nós, perdendo nossos jovens", alerta.

O limite de uso normal e de vício, no caso do álcool, não pode ser determinado pela quantidade, mas pelos efeitos que causa. "O uso de álcool passa a ser doença quando ultrapassa o limite de problema pessoal, passando para a família e para a sociedade", afirma Murilo.

A Casa Nova Aliança recebe os jovens e faz a triagem, orientando a internação ou apenas acompanhamento. "Quando o jovem está tendo a convivência prejudicada na família ou na sociedade, aconselhamos a internação", conclui.

Alguns casos de jovens que se perderam e tiveram a vida desfeita pelas drogas chamam atenção. "Recebemos um jovem de 13 anos que estava em tratamento, mas voltou para o mundo das drogas e foi morto com 16 facadas", diz entristecido Murilo.

Não é preciso visitar as clínicas de recuperação para ver os efeitos negativos das drogas: basta abrir um jornal ou ir as ruas para ver vidas destruídas pelo efeito do "beber, cair e levantar".


Fonte: No Minuto

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